A SENDA
MÍSTICA DA ASCENSÃO
Criado por Verônica D'amoreEnviar mensagem Exibir grupos
INFORMAÇÃO
O CAMINHO MÍSTICO: NATUREZA, ETAPAS E OBJETIVO
"(...)pode-se considerar o misticismo como o resultado
do esforço do homem para reconciliar-se com a Realidade Cósmica.
A escalada mística revelou-lhe que para o caminho místico
convergem todas as outras trilhas que a humanidade percorre, pois eis que o
misticismo é a soma final de todo o engenho humano, que busca suas razões e a
razão de toda a natureza.
Portanto, assumimos, como pressuposto básico para o
desenvolvimento deste tema, que o misticismo é a suprema realização do homem e
resulta do despertar interior da
Consciência Cósmica.
NATUREZA
Quando alguém empreende a sua busca mística, o faz geralmente
movido por um profundo sentimento de inquietação interior. A centelha divina
faz despertar em seu ser indagações sobre o que seja a Vida no seu sentido mais
amplo, sobre o que seja a Verdade na acepção mais exata do termo, sobre quais
sejam a origem e o sentido do Universo.
Por que toda a criação segue um plano definido, em que tudo
se assenta, desde os milagres da natureza, com a sua generosidade, com o seu
equilíbrio, com a sua justiça, com a sua sabedoria, até a participação do homem
dentro deste contexto indivisível que é a Vida?
São perguntas cuja dificuldade não está nas respostas, mas
no caminho que se escolheu para buscá-las. Dizer qual o sentido da vida,
explicar a perplexidade do irreprimível do Universo – são questões que têm sido
objeto da especulação de muitos.
E as explicações se multiplicam: algumas lamentavelmente
falsas e enganosas; outras, insatisfatórias.
Dessa forma, ante perguntas e indagações profundas que lhe
interessam diretamente, pois dizem respeito à sua própria vida, o homem que
inicia a sua busca mística o faz, quase sempre, cruzando o portal de uma
Fraternidade Iniciática, onde, submetendo-se às normas e disciplina próprias,
receberá o instrumental necessário para romper o véu que não lhe permite
vislumbrar as imutáveis Leis do Universo, a verdade da Vida
e a Luz de que precisa para iluminar o seu caminhar no mundo em que lhe é dado
viver.
Ali, a Senda se apresentará tortuosa, e cada passo vencerá o
inacessível. É necessário que seja assim.
Ante as primeiras dificuldades, aqueles que são movidos por
simples curiosidade afastar-se-ão do caminho. Este se tornará pleno de
dificuldades, e nada haverá a vislumbrar, pois a Senda da Verdade e da Vida só
é contemplada pelo buscador humilde, de propósitos nobres e reto de consciência.
Este logo verá que
segue o caminho certo, pois, nas revelações preliminares das
primeiras lições e na participação que tiver nos primeiros rituais,
sentir-se-á integrado à comunidade iniciática a qual passou
a pertencer. E os seus exercícios e experimentos estarão respalda dos pelo
peculiar entusiasmo que o motivará aos novos estudos.
ETAPAS
É o momento do Despertar. É aquela fase em que a consciência
gradual de impressões e sensações irá brotando das profundezas do Eu, ensejando
uma compreensão sempre crescente de uma Realidade Cósmica bem maior do que
aquela que até então fora
apreendida.
Numa seqüência natural do estudo místico, o despertar da
Consciência Cósmica inspirará a Purificação, o idealismo manifestado pela
profunda compreensão da beleza divina e da perfeição do Universo.
E a percepção de quanto toda a natureza se mantém em
harmonia e equilíbrio fará nascer no buscador um agudo sentimento de sua
própria imperfeição. O que fazer então quando se constata essa dicotomia? De um
lado, o esplendor das Leis que regem o Universo: eternas, imutáveis, perfeitas.
Do outro, o homem dominado por paixões subjugadoras, pelo apego aos bens
materiais, pela incontrolável sede do sucesso, pelo inato sentimento de
competição. Então o estudante de misticismo há que decidir por purificar-se
daquelas imperfeições que compreendeu possuir. E isso somente será possível
através da autodisciplina, do autoconhecimento, da sinceridade e da coerência
entre o seu pensamento e a sua ação.
Nessa fase, que os místicos chamam de Purificação,
apresenta-se com toda força uma das principais exigências da Senda: a coerência
entre valores assumidos e atitudes de vida. Os requisitos da sinceridade e da
coerência resultam da Verdade que caracteriza todo o caminho místico. Ninguém
jamais o percorreu sem esses atributos.
Assim, nessa etapa devemos ser capazes de, através do
autoconhecimento, libertar-nos da influência de tudo aquilo que nos prende e
nos limita a um estado de ação em desacordo com a nossa destinação ontológica
de participantes da beleza e da liberdade do Universo. Quando somos capazes de
fazer calar os nossos sentidos objetivos, permitindo que a nossa Essência
Divina, o nosso Eu Interior se manifeste, e assim estar em harmonia com o
Cósmico, chegamos ao elevado patamar da Iluminação. Alcançamos uma distância
muito grande entre o nosso Eu do momento e o Eu antigo sequioso da beleza de
tão sublimes conhecimentos. No entanto, ainda que seja grande e verdadeira a
nossa alegria, atingimos também o ponto crucial e de importância decisiva para
a vida mística do buscador: o momento em que nos será exigida uma coragem
maior, uma paciência e determinação capazes de enfrentar os maiores e os mais
difíceis desafios, e a resoluta decisão de prosseguirmos em frente.
Nós estamos no limiar da Noite Negra da Alma.
E o que vem a ser a Noite Negra da Alma?
E por que temos de enfrentá-la depois do nosso despertar
para a vida mística, depois de nossa escolha de Purificação, depois que, pela
Iluminação, somos capazes de comandar os nossos sentidos objetivos?
A Noite Negra da Alma é um degrau que temos de ultrapassar
nessa caminhada ascensional ao encontro da face de Deus. É também o mais árduo,
o mais escarpado, o de mais difícil acesso, pois que para transpô-lo
precisaremos de toda a nossa coragem e de vigorosa decisão pessoal e íntima
para abraçarmos definitivamente os ideais que nos farão UM com o Cósmico.
Noite Negra da Alma é uma expressão antiga, usada pelos
místicos para caracterizar certo estado emocional e psicológico, bem como uma
fase de provas por que todos passamos na trilha que nos leva ao vislumbre total
de um ideal acalentado com toda a força do nosso ser. São João da Cruz, místico
espanhol do século XVI, a descreveu com muita lucidez e propriedade,
denominando-a Noite Escura do Espírito. Thomas Merton, citando Gregório de
Nissa, teólogo e místico do século IV, nos adverte que “A vida espiritual é uma
caminhada das trevas à luz e da luz às trevas.
É a transição de uma luz que são trevas para trevas que são
luz.
A ascensão da falsidade para a Verdade começa quando a falsa
luz do erro é trocada pela luz que é verdadeira, mas insuficiente, das noções
elementares sobre Deus. Essa luz deve depois ser obscurecida, diz ele. A mente
deve desprender-se das aparências sensíveis e procurar a Deus nas realidades
invisíveis que só a inteligência pode apreender”.
Portanto, até que possamos estar preparados para contemplar
a suprema sabedoria divina, a nossa personalidade-alma deverá ser aperfeiçoada
no cadinho da Noite Negra da Alma, período em que é comum experimentarmos toda
a sorte de fracassos; nosso dia-a-dia transcorre numa seqüência de frustrações;
planos determinados com inteligência e perseverança estarão eivados de
incertezas e obstáculos. A visão e a expectativa do futuro parecerão toldar-se
nas águas da incerteza e da depressão, e experimentamos um profundo desânimo.
Somos então tomados pelo desejo de deixar de lado a busca encetada até o
momento.
Os mais caros ideais parecerão sem nenhuma importância, e o
perigo iminente, que vai pairar sobre nós, é o de interrompermos nossos estudos
místicos, nossas atividades culturais e nos distanciarmos do curso de nossa
vida espiritual, sucumbindo inteiramente ao pessimismo. E se tal acontece,
temos de experimentar a sensação e a convivência com o fracasso, pois essa fase
realmente negra em nossa vida acontece por força de ser tentada, medida e
pesada a fibra de nossa personalidade-alma. Nossas convicções, nossa força de
vontade, nosso merecimento pessoal de maior iluminação são colocados a duras provas.
E se, para escaparmos desse embate interno, nos deixamos
abater por tais conflitos, poderemos desfrutar uma paz aparente, em nível de
nossa mediocridade, mas, no recôndito de nós mesmos, nos recessos mais
profundos de nosso ser, lá onde nos fala a consciência, senhora absoluta de
imaculado silêncio, estaremos certos de que, deliberadamente, renunciamos ao
júbilo de realizarmos a conquista da verdadeira Paz, daquela Paz de espírito
sobre a qual nos falou o Mestre Jesus.
A Noite Negra da Alma não é em si mesma uma circunstância
cármica, uma purificação “imposta” ao indivíduo. É, antes de tudo, um retoque
final à obra de arte que vem sendo elaborada dentro de nós, no desenrolar de
sucessivas etapas do nosso aperfeiçoamento interior. Até chegar à Iluminação
vamos melhorando nossa consciência pessoal, mas é enfrentando essa fase
angustiante de incertezas e desafios que daremos a feição verdadeira ao novo
ser que brotará dentro de nós, um novo ser que foi capaz de escalar doloroso
caminho até alcançar níveis mais altos de consciência." (...)
Por FRANCISCO RODRIGUES DE FREITAS, FRC*
http://www.amorc.org.br/caminho_mistico.pdf


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