SOLITUDE – SOLIDÃO...
Qual a diferença entre se encontrar só, solitude e solidão?
E será que nos encontramos realmente sós, quando assim pensamos e sentimos a
dor da solidão?
Consideremos três aspectos da solidão:
1º - A solidão
sofrida, que nos arrasta às dores da alma, que nos implora estarmos em
convivência com alguém, que, do fundo de nosso ser nos solicita a interação com
outras pessoas e que nos faz sentir desamparados pela ilha que nos tornamos ou
estamos passando.
2º - A solidão
altamente benéfica, cultivada, construtiva, ressignificativa - de efeitos
altamente positivos para a nossa psiqué - onde assim podemos nos presentear com
um merecido tempo só para nós. Um tempo onde podemos fazer e ter o prazer em
atividades por mais simples que sejam; nos acalmar, descansar, ler, refletir,
nos redirecionar, nos reposicionar perante nós mesmos, onde assim podemos nos
entender melhor; onde pelo fato de estarmos fisicamente sós temos a chance de
poder mergulhar mais fundo em nós mesmos, nos redescobrir e assim encontrar
soluções, satisfação – e a felicidade – de podermos crescer, nos lapidar, quando
por um tempo imprescindível podemos nos examinar, nos endireitar perante nossa
consciência.
3º - A solidão
meditativa. O estar só sem contudo nos sentirmos sozinhos. A solidão que,
partindo do espaço que se abre ao nosso autoconhecimento nos permite
conviver com a essência divina e humana do que somos, a solidão assim que nos
faz caminhar mais perto de Deus, quando, em recolhimento, nos entregamos à
prática do estudo, da oração, da reflexão, do estar em paz na profundidade de
nosso silencio.
A solidão sofrida que nos empurra ao sofrimento, na
realidade representa o profundo anseio de nossa alma por sairmos um pouco do
ensimesmamento e nos convida a expandir e abrir as comportas de nosso pequeno
ego que de nós exige sempre a convivência.
Na solidão sofrida precisamos olhar para dentro de nós mesmos
e indagar o que está impedindo de nos relacionar: Preocupações? Dependência? Orgulho?
Vaidade? Inveja? Excesso de auto-importancia? Autocomiseração? Medo de tentar?
Falta da riqueza libertadora do perdão? Desmerecimento? “Falta de tempo?”
Idéias fixas como preconceitos? Nos considerarmos superiores ou inferiores a
alguém? Carência de autoconfiança? O que será, precisamos com honestidade
conosco mesmos – e isto é importantíssimo na vida - nos perguntar. Seja com um amigo (a), seja
com nossos entes queridos, seja com alguém que conhecemos ou que podemos vir a conhecer.
Qual será assim a atitude que me está impedindo de ligar
para alguém, de dizer “Eu te amo!”, passar um email, convidar alguém, ir ao
encontro das pessoas, freqüentar uma academia, um curso, uma palestra, um
evento, uma atividade caridosa, ir a uma festa ou seresta, seja mesmo que
apenas dar uma volta pela cidade para que possamos ver nossos semelhantes? Ou
conversar com o vendedor de picolé? O que me impede? Será que posso perder alguma
coisa com isso?
Mas e se for a autocomiseração?: Estou eu assumindo o papel
de vítima das situações ou dos acontecimentos, do que me fizeram, da sensação
de impotência perante minha interação com as pessoas que julgo e classifico,
que as vejo com lentes de meus exigentes critérios? Preciso encontrar as
pessoas perfeitas ou carregadas de virtudes e mínimos defeitos, sendo que eu
mesmo ainda não alcancei esse patamar?
Veja esta frase do Jean Paul Sartre: “Não importa o que
fizeram com você. O que importa é o que você faz com o que fizeram com você.”
E você sempre pode fazer o melhor para alcançar a nobreza da auto-superação e
enriquecer seus créditos consigo mesmo e com a Vida. Pois dia virá em que
irás colher tudo o que plantastes aqui. E nesse dia verás que “tudo o que
fizestes aos outros, na realidade é a você mesmo que fizestes.”
A solidão sofrida pode nos trazer desalento ou depressão,
quando nos deixamos sucumbir pelo desânimo e assim, temporariamente, nos sentir
abandonados à nossa própria sorte. Porque alguém me deixou. Meu casamento
acabou. Meus planos foram por água abaixo. Porque alguém me magoou e porque não
consegui perdoar e me autoperdoar. Porque estou profundamente chocado e
perdido, quando alguém que me foi tão caro passou para o outro lado da vida.
Cumpriu a sua missão e Deus o chamou. Pela saudade que essa “perda” representa.
Na realidade essa “perda” nos faz sentir uma dor imensurável, uma solidão
infinita que não se pode compartilhar. Que só nós sabemos o que estamos
sentindo. Mas que no fundo sabemos que estamos chorando mais por nós mesmos,
pelo apego que tivemos, quiçá por aquilo que fizemos ou não fizemos, pela
sensação de estarmos completamente sós em nossa lancinante dor. E assim, mesmo
sabendo que o tempo cura nossas mazelas, não percebemos sequer o tempo passar...
Parece-nos que tudo estacionou. E que um grande vazio veio e ficou.
O que fazer para acabar ou então minorar esse sentimento
sofrido onde nos imergimos na fragilidade de nossos sentimentos que clamam por
compartilhar com alguém, com Deus, com nossos orientadores e protetores da
espiritualidade, que, sabemos, também como nosso Pai-Mãe celestial, nunca nos
abandonam?
Há algum caminho e rota infalível para sairmos dessa baixa
de auto-estima que nos assola as fímbrias de nosso coração? E até quando
permitiremos que a solidão a dois, a três, a mil... possa continuar nos ferindo
o coração? Com certeza não é isto que queremos para nossa vida! É importante
entrarmos em contato com nossa solidão. Com nossa mágoa ou nossa tristeza. Permitir
que venham, que olhemos para ela, que possamos saber como suprimi-la, administrá-la
ou conviver com ela.
Como fazer para alquimizar em nós a solidão sofrida na mais
profícua solidão elevada, trabalhada, consoladora, meditativa, portanto em solitude?
Não, não há receitas fixas, infalíveis, não há conduta
uniforme para todos. Esse caminho não lhe podemos apontar. Compete a você o
encontrar. Mas sabemos que o nosso aconchego em um ombro amigo e no sorriso que
podemos compartilhar, ou nas pessoas que podemos ajudar, e no comportamento
solidário, quando nosso chamado interno nos pede para estar mais perto de Deus
e mais perto de quem amamos, representam o maior lenitivo para nossa alma
sedenta de amparo, ansiosa por alegria, desejosa de realizações. E que nos dá
um pouco mais de felicidade e nos reconduz ao sentido maior da vida. O sentido
da vida que é a própria vida e sua dinâmica sábia e surpreendedoramente nova e
rica em
possibilidades. Quando o tempo, o inesperado, as surpresas, o
devir e as novas configurações da realidade sempre mutante nos oferecem outras
esperanças, panoramas e recursos, diferentes ferramentas para utilizar, para
trabalhar e seguir mais reconfortados no caminhar de nossa missão na vida.
Mas, fundamentalmente, necessário é nos esforçar para abrir
os olhos, abrir nosso coração e mente para além de nossos pré-conceitos e
cristalizações. Para além das classificações com que olhamos as pessoas. Nos
abrir para o sempre novo. Para a Fé. Porque a vida é sempre nova e as
oportunidades estão aí. E que assim, renovados em nossos pensamentos e
sentimentos podemos viver com maior intensidade dentro do poderoso portal que
a sabedoria e o amor de Deus têm para nós reservado como acesso de entrada para
o maior paraíso e realização humana: O portal da vivencia intensa e milimétrica
do dia de hoje, o viver absolutamente dentro do Aqui e do Agora.
Na solidão benéfica e na solidão meditativa se
configura o que se chama de solitude, ou seja, aquele espaço e aquele
tempo em que a solidão é tão necessária a nós como o oxigênio que precisamos
para viver.
Teorizar sobre a solidão humana pode ser fácil. Senti-la e
vivenciá-la como a podemos transformar em um tempo útil, amoroso e benéfico
para nós mesmos requer de nós coragem, a força de alma e a conscientização de
que, em nada sendo ou acontecendo por mero acaso, está a vida nos oferecendo ricas chances! Para nos preparar para a alegria genuína de
nos sabermos prenhes de mil oportunidades de progresso e auto-superação. Mas
que somente a nós cabe mudar o rumo de nosso destino. E que o caminho mais
profícuo em nosso bom combate se encontra como inestimável tesouro exatamente
dentro de nós mesmos.
É quando a solitude
benéfica nos conduz à solidão meditativa.
Quando percebemos em nós a necessidade de nos conhecer melhor. Quando
assim, pelos caminhos e peculiares meandros da meditação passamos, agora mais
do que em nossas prévias convicções, a descobrir horizontes e possibilidades
nunca antes imaginadas dentro de nosso ser. Nosso ser que precisa ser
trabalhado em todos os níveis: físico, emocional, mental e espiritual. E cujas
diretrizes as vamos encontrando quando mergulhamos para além de nossos
pensamentos, sentimentos e práticas espirituais isentas de qualquer limitação
religiosa ou dogmática.
O primeiro passo para alcançarmos, pois, níveis de
consciência superiores das nossas próprias dimensões de realidade, é relaxarmos.
Encontrarmos a paz que existe quando podemos acalmar nossos pensamentos e
emoções. Segue agora, irmão, irmã, uma sugestão para a solitude de um relax-meditativo.
Vá a um canto tranqüilo, sente-se ou deite-se, feche os
olhos e procure olhar para o seu corpo. Faça três inspirações profundas. Segure
um pouco. Expire deliciosamente. Vá paulatinamente relaxando cada parte dele.
Relaxe seus pés. Relaxe suas pernas. Relaxe sua pélvis. Relaxe seu estômago.
Relaxe suas costas (Você pode imaginar suas vértebras espalhando-se
gostosamente) Relaxe sua nuca, seu pescoço. Relaxe seus lábios. Relaxe os
músculos de sua face, como um sorriso. Relaxe sua cabeça, seus olhos, seu couro
cabeludo. Olhe para seu corpo: Relaxe seus músculos e onde perceber qualquer
área sob tensão.
Você, ao sentir o seu corpo e tomar consciência dele, estará
presentificando-se e tomando mais consciência de seu corpo físico que é a base
da pirâmide que sustenta todo o seu ser emocional, mental e espiritual. Neste
ponto de seu relax, pense e sinta algo positivo, elevado: Em Deus. No Amor. Na
paz. Na harmonia... E ao sentir essas vibrações, emane essa paz, esse amor,
para todo o seu ambiente e para as pessoas em seu redor ou que fazem parte de
sua vida e que nesse momento freqüentam seus pensamentos.
Agora, comece a observar seus sentimentos. Transmute-os para
energias positivas. Mas aceite e assuma o que vier, sejam positivos ou
negativos. Reflita, trabalhe-os.
Observe agora os seus pensamentos. Você não é os seus
pensamentos. Deixe-os passar por sua mente como passam as nuvens. Apenas os
observe chegar e ir-se embora. Aqui você os pode mudá-los. Para outros
melhores. Para o que for mais edificante para você e sua vida. Os pensamentos
podem se estender através de associações com o que lhe é familiar e conhecido.
Mas, concentre-se em sua respiração. Apenas na sua inspiração e expiração.
Sinta-se completamente. Sinta o pulsar de seu coração, de suas veias. Quanto aos
pensamentos, apenas os testemunhe sem identificar-se com eles. Imagine uma tela
em branco. Inspire
e expire profundamente. Reabra seus olhos, e, lentamente, retome a posse ativa de
seu corpo, de suas emoções e pensamentos para a prática de suas ações.
Veja como o novo sempre está a aparecer no devir do rio de
sua vida. E você pode e deve implantar no seu dia um momento para si mesmo. O
momento de sua sagrada solitude. O momento do relax. Ou se for
necessário, o momento de alguns relaxs por dia. A determinação de
autoconhecer-se e elevar-se para além do tumulto do mundo, para além de tensões
e preocupações do dia a dia. Nesses momentos, é você consigo mesmo. É um tempo só seu.
É um começo, e é sempre um recomeço. É a solidão
meditativa que lhe trará com o desenvolver de sua prática novos
conhecimentos, novo frescor e uma nova dimensão para o seu viver, para o
exercício de suas funções e atividades cotidianas dentro da paz que vai se
instalando em você.
Quando assim irás perceber que todo o seu fazer cotidiano se
apresenta tal qual uma meditação.
E nesse estado de solidão- meditativa, irás
percebendo a tua ligação e unicidade com o mundo e os seres que participam de
tua vida. Conhecer-te-ás melhor. Sentir-te-ás mais integrado e feliz. E com o
tempo, reconhecer-te-ás refletido, como um espelho, em todas as pessoas. E
passarás a senti-las em ti.
Como parte de ti.
Irradie pensamentos
carinhosos para todos aqueles que vêem freqüentar teu pensamento. E nesse
estado elevado, nesta tão benfazeja solitude verás que não estais realmente
só. Que nunca tivestes mesmo só. Que teus pensamentos, sentimentos e ações,
por mínimas que sejam refletem no todo e que vão e vêm no Universo que te dá o
feedback de energias de auto-aperfeiçoamento.
E que assim terás a necessidade de cultivar tua
solidão. De transformá-la de solidão sofrida para a solidão benéfica. E que, ao
utilizares mais tempo para ti, podes te encaminhar para a solidão que agora é
solitude. E que de outra forma irás encontrar agora as pessoas, no momento
certo, no momento que escolheres, quando é fundamental que possas criar, você
mesmo, oportunidades para ti. Para entreteceres a interação e a irmandade no
fraternal relacionar com as pessoas e o mundo.
Quando assim, pelo autoconhecer-se e pela diversificação de
teus hábitos e tuas ações, determinando-te a encetar a prestação de serviços com
amor discernido e desinteressado para todos, para a glória da vida e de teu
crescimento pessoal, daqui em diante não te sentirás mais só. E perceberás, maravilhado
(a), que o imperativo de suas atividades em solitude te recompensará com
a felicidade do encontro com teu Eu Sublime, Eterno e Verdadeiro e na
descoberta então de mil possibilidades jamais sonhadas da tua dimensão superior
enquanto Ser, reconduzindo-te e trazendo-te a bem-aventurança de encontrar e
reencontrar com todos e com Deus.
Deus que habita dentro e fora de você e que te faz – e que te irás reconhecer –
co-criador da própria realidade da vida e do cosmos, quando, na solidão
meditativa sentir-te-á Feliz. Na felicidade da solidão-toda-acompanhada,
não mais sofrida, porém sadiamente compartilhada com todos aqueles que de ti se
acercam, e que de ti aguardam teu sorriso de empatia e simpatia, na sintonia alegre
com eles e na vivência da solitude sincrônica dentro da solidão bela e infinita
de quem se vê Um com tudo e com todos os seres.
E assim, querido (a), imerso e atuante no amor pelos teus. Sempre em espírito de colaboração. Por tua família. Pela família humana sem limitações.
Pelo ser em cada pessoa. Pelo percebimento delas em ti. Na solidão, que, quando
sofrida e sentida, podes transmudar em jóias de autoconhecimento, portanto em
ricas oportunidades de te encontrares feliz e pleno contigo mesmo, com o teu
próximo e com Deus.
Ivanildo Falcão da Gama
Autor do livro: “SER LUZ!”
Para refletirmos...:
O amor não consiste em olhar
um para o outro, mas sim em olhar juntos
para a mesma direção.
Antoine de Saint-Exupéry – escritor, ilustrador e piloto francês.
O amor é um sentimento tão delicioso porque o interesse de quem
ama se confunde com o do amado.
Stendhal – escritor francês.
Ser profundamente amado por
alguém dá força. Amar profundamente
alguém da coragem.
Lao-Tsé – filósofo chinês.
Amar não e aceitar tudo.
Aliás, onde tudo é aceito, desconfio que há falta de amor.
Vladimir Maiakovski – poeta russo.
Amor é a
descoberta de nós mesmos nos outros e a alegria
desse reconhecimento.
Alexander Smith – poeta escocês
Parece-me fácil viver sem
ódio, coisa que nunca senti, mas viver
sem amor acho impossível.
Jorge Luis Borges – escritor, tradutor e crítico argentino.
Amigos são
anjos que nos deixam em pé quando nossas asas têm problemas em se lembrar como
voar.
Silene B. Clyub
Se formos capazes de dar felicidade a uma alma mesmo que por um
minuto, isso torna a nossa vida abençoada.
Amma
Aceite as adversidades com amor e nunca
encontrará o sofrimento.
Amma
O caminho da separatividade, cega a unidade
essencial de toda a existência, é um caminho de conflito e lutas.
Trigueirinho
Mesmo depois do leite derramado é importante pensar que
a vida continua e a vaca não morreu. Eno
T. Wanke
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